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Em SP, mãe relata morte após acidente e alerta sobre ‘efeito chicote’

Foto: reprodução

Na segunda gestação, a dona de casa Eloise Ghion Pires, 28 anos, passou por muito momentos preocupantes, durante a gestação de seu filho Miguel. Ela contou os sustos que levou, um deles foi a ameaça de parto prematuro, teve ainda um rim aumentado, além da placenta mal posicionada e sangramentos.

O relato dessa mãe é impressionante: “Numa dessas, fui para o hospital achando que era mais uma das correrias e que logo estaria em casa novamente, mas não foi assim. Eu fiquei, e lembro de quando estava sendo transferida, me colocaram dentro da ambulância e minha mãe disse: ‘É, essa gravidez vai ter muita história pra contar’, e nós caímos na risada. A vida dele era uma grande história pra contar, eu só não sabia disso ainda”, conta Eloise.

“Mesmo já estando internada, o parto tão antes da data prevista pegou todo mundo de surpresa: correria, confusão, medo e, então, alegria. Depois de tantos sustos, ele estava lá, com o rostinho colado ao meu”, contou Eloise dizendo que o filho nasceu com pouco peso e prematuro.

“Mal resolvíamos uma coisa e outra aparecia. Mas a alegria de ter aquele bebê de personalidade tão peculiar superava todos os problemas. Um dia, quando parecia que, finalmente, estava tudo calmo e que a vida tinha entrado no eixo, surgiram vultos, barulhos ensurdecedores, gritos e desespero”.

Em abril de 2016, quando Miguel tinha 8 meses, a família foi vítima de um acidente de trânsito. “Um dia, uma pessoa fez a má escolha de sair de casa, apesar da habilitação suspensa e da documentação irregular do carro. Transitou acima do limite de velocidade e ultrapassou o farol vermelho”, disse a mãe prosseguindo, em seguida contando sobre o acidente

“Eu nem mesmo havia entendido o que aconteceu quando percebi que as coisas não estavam nada bem. Embora eu olhasse para o meu bebê e não visse um arranhão, eu sabia que a situação era desesperadora.

Não dava para sair do carro, minha mãe me pedia desesperadamente para eu entregar o Miguel para ela, e eu simplesmente não sabia o que fazer. Vi minha mãe, meus dois filhos e minha irmã serem levados para o hospital e me deparei com um carro destruído, um celular na mão, uma policial me fazendo perguntas e eu ali, perdida, sem saber o que fazer ou falar.”

“Fui para o hospital desesperada por informações e, ao mesmo tempo, com medo do que eu estava para descobrir. Miguel foi levado para cirurgia às pressas. As chances de sucesso eram mínimas, mas não havia outra opção. A médica nos orientou a nos preparar para o pior.

É possível estar preparado para o pior? Foram diversas paradas cardiorrespiratórias, hipovolemia, entre tantas outras complicações. Foi assim que encerramos aquele dia. Eu simplesmente não conseguia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo com o meu pequeno ‘Gergelim'”, disse a dona de casa.

Somente após 13 dias, a mãe teve a chance de segurar o filho no colo pela primeira vez:  “Ele estava entubado, com sonda, com catéter, com a cabecinha toda enfaixada e inchado. E, mesmo assim, talvez tenha sido o momento mais emocionante da minha vida. Eu chorava, mas não de tristeza e, sim, de alegria por Deus me dar outra chance.”

“Infelizmente, a lesão do Miguel foi inevitável. Nossas cadeirinhas não evitam completamente o ‘efeito chicote’ — onde a cabeça da criança é lançada para frente e para trás com força — principalmente em casos como nosso, onde foram múltiplas pancadas em diversas direções”, afirmou.

“Segundo os médicos, os exames dele eram incompatíveis com a vida”, “Ele sofreu uma lesão neurológica e desenvolveu uma epilepsia de difícil controle — não andava, não tinha controle cervical pleno e ficou com déficit de deglutição. Foram anos de terapias, fisioterapia, equoterapia, terapia ocupacional e fonoterapia. “Ele mostrava bom entendimento das coisas, mas não falava, apenas poucas coisas, mas sabia se expressar. Quem conviva com ele, sabia identificar o que ele queria e o que sentia.” 

“Vi meu filho, que estava condenado a passar a vida respirando com auxílio de aparelhos, voltar a respirar com os seus pulmões, como se nada fosse mais simples do que isto. Aprendi o valor do seu choro, do seu bocejo, de cada movimento, de cada tosse, de cada abrir de olhos.

Vi meu filho, que não tinha nenhuma possibilidade, deixar a UTI depois de 29 dias. Vi meu filho, que talvez jamais deixasse o hospital, sair depois de 37 dias de internação. Quando trouxe Miguel pra casa, tive medo. Muitas vezes, eu chorei; muitas vezes, nos sentimos fracos, mas, todos os dias, eu tive motivos para agradecer.”

“Há três meses, ele teve morte súbita por conta da epilepsia. Hoje, eu digo que um dia não é igual ao outro. Todos os dias são difíceis, mas alguns são verdadeiramente insuportáveis. Eu tento ser forte e corajosa como ele sempre foi, até porque tenho mais três filhos — dois frutos de adoção e um biológico”, disse Eloise. “Miguel nunca foi um peso, ao contrário, foi um imenso privilégio tê-lo na minha vida”.

Eloise contou que a mulher que dirigia o carro, não foi responsabilizada pelo acidente, por ter batido no carro em que ele estava com a família.

“Já na delegacia, fui avisada que, apesar da gravidade do ocorrido, não caracterizava dolo. Mas dez meses após o acidente, eu a procurei. Não acreditava que alguém pudesse fazer isso e ser indiferente. Infelizmente, descobri que sim, uma pessoa pode causar tudo isso e ser indiferente. Ela não se sente responsável, acredita que foi uma fatalidade e ponto. Nunca nos procurou, nunca ajudou”.

“Todos veem o Miguel como a única vítima do acidente, porque é visual. A verdade é que todos somos vítimas. Minha irmã desenvolveu esquizofrenia, eu tive vários problemas de saúde, meu marido teve que mudar toda sua vida profissional. Mudamos de casa, de vida. Todos saímos destruídos daquele acidente. E, hoje, estamos sem o Guel”, concluiu Eloise.

Créditos: https://revistacrescer.globo.com/Voce-precisa-saber/noticia/2019/12/em-sp-crianca-morre-depois-de-acidente-de-transito-e-mae-faz-alerta-cadeirinhas-nao-evitam-o-efeito-chicote.html

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