Anai Moraes Serra dos Santos Alves, que trabalhava como auxiliar da escola, e é filha do dono do Centro Educacional I-Mesa de Maringá, no norte do Paraná, é acusada pelo Ministério Público do Paraná (MP-PR) de torturar ao menos dez crianças de 2017 a junho de 2018. A denúncia foi aceita pela Justiça no dia 23 de maio.
Segundo a denuncia do MP, Anai que vai responder por tortura, submeteu alguns alunos a “intenso sofrimento físico e mental, aplicando castigo pessoal e medidas de caráter preventivo para evitar comportamentos que ela considerava como indisciplina”, quando trabalhava com as turmas do Infantil I e Berçário.
Há vários relatos em que a mulher teria sido rude, sem paciência, e agressiva com as crianças.
O MP-PR afirma que a acusada sufocou com travesseiro crianças que não queriam dormir. Também obrigou alguns alunos a engolirem o próprio vômito quando não queriam comer e começavam a chorar.
Ainda de acordo com a promotoria, uma mesma menina teria sido agredida pela mulher por diversas vezes, e que ela teria inclusive se engasgado, e foi necessário socorro.
A criança também foi levantada pelo pescoço e jogada no chão porque chorava.
O MP-PR apurou também que Anai dos Santos Alves dava tapas nos pés, mãos, pernas e rostos de alguns alunos. As agressões ocorriam até nas trocas de fraldas. Em um episódio relatado, a acusada pediu para uma zeladora tratar os ferimentos de uma criança que ficou com o rosto inchado.
A denúncia ainda descreve que a acusada também chegou a arranhar o rosto de um menino e obrigou outro aluno a lavar o rosto após encher as mãos com álcool, causando ardência nos olhos da criança.
Uma ex-professora da escola contou que foi orientada a forçar os alunos a comerem.
“Era orientado que as crianças tinham que fazer a refeição completa e comer a variedade. As crianças tinham que comer toda a variedade. Se a criança não comesse ou rejeitasse, a orientação era colocar a comida na boca da criança e fechar até que ela engolisse”, disse.
O pai de uma das alunas da escola diz que a filha sofreu com a conduta de Anai.
“Com raiva das crianças, dependendo do que as crianças não faziam direito, ela as punia. A minha filha foi dessa forma. Tentando botar uma colher de vômito para ela comer novamente”, contou.
Quando soube o que tinha acontecido, o pai tirou a filha da escola.
“A minha filha quando passa próximo ao colégio chora ou pede para a mãe não deixar ela lá”, afirma.
As agressões também foram confirmadas por uma professora que trabalhou na mesma sala de Anai Alves.
“Ela bateu na mão de uma criança na minha frente. Ela bateu muito forte porque a criança estava roendo a unha”, declarou a professora.
Ricardo Malek Fredegoto, promotor do caso, afirmou que as crianças estão sofrendo com crises de choro, terror noturno, e ansiedade, depois que começaram a freqüentar a escola.
orge Moraes dos Santos Alves e Maria Elisete Serra Alves, donos da escola, e pais de Anai, também foram denunciado por omissão.
Segundo relato de testemunhas eles sabiam do comportamento da filha, e e não tomaram nenhuma atitude para evitá-las, ou se quer apuraram os fatos. Jorge era diretor da escola e Maria Elisete orientadora pedagógica.
E Jorge teria demitido uma funcionária que começou a comentar com outros funcionários sobre o comportamento de Anai.
Uma professora também foi ameaçada e depois demitida, depois de procurar o casal para falar sobre as agressões de Anai.
Quem trabalhou na escola e presenciou as agressões, não esquece do que viu.
“Ficava pensando nos meus filhos. Os pais deixam os filhos lá achando que eram bem tratados. Não tinha coragem de fazer isso com as crianças, por isso não consegui trabalhar mais lá”, diz uma ex-funcionária da escola.
“Ela me desanimou muito profissionalmente. Me afastei da profissão depois disso, porque foram meses de tortura, não só para as crianças como para os professores. Tenho outras colegas que saíram da escola e vivem abaladas emocionalmente, porque o que a gente viu, o que a gente presenciou, foram coisas horríveis”, desabafou a professora que denunciou o caso ao MP-PR.
O advogado Bruno Brandão, que representa a família, diz que Anai, Jorge e Maria Elisete negam as acusações.
“É importante frisar, que além da negativa dos fatos, que em momento algum houve agressão por parte de qualquer pessoa dentro da escola contra qualquer criança. Os diretores da escola também não tiveram contato algum com qualquer denúncia, com qualquer fato, com qualquer comunicado de que esse tipo de conduta estava acontecendo no interior do colégio. Assim que ficaram sabendo do início das investigações, os diretores fizeram uma reunião com todos os pais explicando e pontuando os fatos”, justificou.