A mãe de Thayná ficou grávida quando foi estuprada. Ela morou com o pai até os 14 anos.
Thayná Ester Bicudo, de 23 anos, é uma jovem que trabalha como faxineira em São Paulo e têm uma história que mais parece um roteiro de novela.
A mãe da jovem trabalhava como prostituta no Porto de Santos, e um dia foi estuprada por um cliente com quem ela até então tinha uma relação amigável. Dessa violência ela engravidou de Thayná.
A mulher tentou abortar a criança usando remédios, mas não conseguiu e então decidiu levar a gravidez adiante, e com o pai de sua filha, seu violador.
A relação do casal era conflituosa e quando a menina completou dois anos, o homem a raptou e foi embora com ela para outra cidade, com a família dele.
“Morei com eles até meus 14 anos e só descobri que sou filha de um estupro quando conheci minha mãe, aos 15”, conta.
Com a morte do pai, ela voltou a morar com a mãe, e depois disso outros problemas surgiram.
“Minha relação com meu pai não era das piores. Eu percebia que ele era machista, que ficava muito incomodado quando alguma mulher decidia trabalhar. No entanto, nunca foi agressivo comigo e até me deu certa liberdade, nunca deixou que me faltasse nada. Cresci ouvindo que minha mãe era assunto proibido. Não sabia onde ela estava, nem o motivo pelo qual ela decidiu não ficar comigo. Só sabia seu nome.
Minha mãe era prostituta e trabalhava perto do porto de Santos. Ele a conheceu em uma das viagens que fez com o caminhão. Tentou transar com ela, ouviu um ‘não’, então a estuprou. Pouco depois, minha mãe descobriu que estava grávida. Sem saber o que fazer, tentou abortar com remédio; não conseguiu.
Desesperada, ela decidiu fugir, mas foi aconselhada por uma tia a procurar meu pai, contar a verdade e, quem sabe, engatar um relacionamento. Ela dizia que seria melhor para mim. Fomos morar juntos os três e, claro, não deu certo. Ele a agredia com frequência e ela decidiu se separar.
Meu pai voltava de uma viagem longa quando minha mãe anunciou que iria embora. Eu tinha dois anos. Ele ficou transtornado, me pegou no colo e fugiu comigo. Não a vi mais. Ela poderia ter denunciado, procurado a polícia, mas me disse que achou melhor assim, já que ele tinha condições financeiras para me criar. Fomos morar na casa da minha avó, no ABC Paulista. Quando ela morreu, mudamos para o interior. Ela sempre respeitou a decisão do meu pai de não falar sobre minha mãe.
Aos meus 14 anos, meu pai morreu por causa de uma pneumonia em decorrência da AIDS. Sem ele e sem minha avó, fui morar com um casal de amigos da família com quem eu já convivia. O problema é que, como a guarda não foi oficializada, o conselho tutelar os procurou e eu fiquei com medo de ser levada para um abrigo. Procurei o nome completo da minha mãe na minha certidão de nascimento, liguei para a Telelistas e encontrei o número de telefone dela.
Disse: ‘Oi, você é minha mãe’. Eu morava no interior de São Paulo na época e pedi que ela fosse me buscar. Foi no mesmo dia. Quando a vi, me senti estranha. Era uma pessoa desconhecida com quem eu passaria a minha vida a partir daquele dia. Foi na viagem para casa que descobri toda a verdade sobre o meu pai. Foi um choque para mim.
Minha mãe se casou de novo, teve outro filho, recomeçou a vida. Chegando na casa dela, conheci meu padrasto e meu irmão. Ela já tinha outra família, da qual eu não fazia parte e por mais que eu estivesse feliz por ela, me senti excluída daquela realidade.
Eu não sentia amor por ninguém, era como se eu fosse uma estranha ali. Comecei a me afastar. A gente brigava muito, ela dizia o tempo todo que eu era muito parecida com meu pai e que ele havia me criado desse jeito para provocá-la.
Não consegui ficar nem um ano na casa dela e fui morar na rua. Dormia debaixo de marquises, tomava banho em abrigos e comia em um centro espírita que oferece refeições para moradores de rua. Foram sete anos dormindo ao relento, metade em Santos e metade em São Paulo. Vim para a capital depois que uma amiga, que conheci na rua, se mudou para frequentar uma maloca, uma comunidade de moradores de rua que fica debaixo do viaduto Alcântara Machado, no Brás. Ela voltou para me buscar. Assim que cheguei, conheci meu marido.
Engravidei do meu primeiro filho há seis anos. Do segundo, há três. Faz oito meses que saímos da maloca. Meu marido conseguiu um emprego e nós, finalmente, alugamos uma casa. Eu ainda estou desempregada, mas faço faxina sempre que posso. Quero que meus filhos cresçam com muito amor e quero dar a eles a melhor vida possível.
Vejo minha mãe de vez em quando, mas não temos uma relação de mãe e filha.”, contou Thayná.