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O êxodo dos fiéis: igrejas esvaziadas e impacto na comunidade.

O êxodo dos fiéis: igrejas esvaziadas e impacto na comunidade

As igrejas evangélicas nos Estados Unidos sempre foram um pilar de apoio para os imigrantes, especialmente os latinos. Além de um espaço de culto, essas congregações ofereciam assistência social, apoio jurídico e até mesmo ajuda na busca por emprego e moradia. No entanto, com a intensificação das deportações, essas igrejas estão enfrentando um esvaziamento sem precedentes.

Dados do Pew Research Center indicam que, entre 2017 e 2020, a população imigrante sem documentação nos EUA caiu em cerca de 900 mil pessoas. Grande parte desse contingente frequentava igrejas evangélicas, deixando um vácuo significativo nas comunidades religiosas. Em cidades como Houston, Miami e Los Angeles, algumas igrejas que antes recebiam centenas de fiéis em seus cultos dominicais agora reúnem apenas algumas dezenas.

Para pastores que dedicaram anos à construção de suas comunidades, esse êxodo é devastador. O impacto vai além dos números: são histórias de famílias separadas, crianças que deixam escolas e lares desfeitos da noite para o dia. “Perdemos membros da nossa igreja toda semana. Alguns simplesmente desaparecem, e depois ficamos sabendo que foram deportados”, relata o pastor Enrique Morales, líder de uma congregação na Flórida.


O desespero dos líderes religiosos

Para muitos pastores, a crise causada pelas deportações representa um dilema angustiante. Além da dor de ver suas comunidades desmoronando, há o desafio de manter as portas abertas. Igrejas evangélicas, especialmente as de bairros imigrantes, dependem fortemente do envolvimento da comunidade para continuar funcionando.

O pastor Eduardo Ramírez, que lidera uma igreja em Dallas, conta que nos últimos anos teve que reduzir drasticamente suas atividades. “Antes, tínhamos três cultos por semana, grupos de jovens e até assistência social para quem precisava. Agora, mal conseguimos pagar as contas básicas da igreja”, afirma. O medo entre os fiéis também se intensificou. Muitos evitam sair de casa ou até mesmo ir aos cultos, temendo batidas do ICE (Serviço de Imigração e Alfândega dos EUA).

O desespero entre os líderes religiosos levou alguns a tomarem medidas extremas, como abrigar imigrantes dentro das próprias igrejas, tentando protegê-los da deportação. Essa prática, conhecida como “santuário”, tem se tornado mais comum, mas também coloca essas congregações sob o radar das autoridades.


O impacto financeiro: dízimos e doações em colapso

Além da redução no número de fiéis, as igrejas evangélicas enfrentam uma crise financeira severa. Sem os dízimos e as ofertas, muitas congregações estão à beira do fechamento. Tradicionalmente, os imigrantes evangélicos sempre contribuíram ativamente para suas igrejas, mas a saída forçada de milhares de membros gerou um déficit econômico difícil de reverter.

Um levantamento do Instituto de Religião Pública (PRI) mostrou que igrejas em comunidades predominantemente latinas perderam, em média, 40% de suas arrecadações nos últimos anos. Essa queda no financiamento afeta não apenas os custos operacionais das igrejas, mas também os serviços de assistência social que muitas delas oferecem.

“O dinheiro que arrecadamos servia para ajudar membros desempregados, oferecer refeições gratuitas e até mesmo pagar advogados para casos de imigração. Agora, mal conseguimos pagar a conta de luz”, lamenta a pastora Melissa Hernández, de uma igreja em Phoenix.

Diante desse cenário, algumas igrejas tentam buscar doações externas, enquanto outras exploram parcerias com organizações não governamentais. No entanto, o apoio ainda é insuficiente para suprir a demanda crescente.

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