Ao ver uma criança com necessidades especiais, a primeira coisa que os pais pensam é em agradecer ao fato de que seus filhos não sejam assim.
Mas alguma vez você já parou para pensar que agradecer que a sua não seja, ou o de ignorar que elas existem, não muda o fato de que elas estão ai, e são cidadãos como todos nós que precisam ser inseridos da melhor forma na sociedade?
Essa questão foi tema de um belo texto do apresentado Marcos Mion, para chamar atenção da sociedade sobre essa postura de todos.
Marcos é pai de Romeo que tem autismo, e sempre que pode fala em nome de todas as crianças especiais.
Leia o texto de Marcos Mion na íntegra:
“Quantas vezes o fato de você ver uma criança especial ou portadora de alguma deficiência física o fez agradecer a Deus, com alívio, o fato de não ser a sua criança? Se essa resposta não dependesse de aprovação moral, tenho certeza de que teríamos quase 100% de respostas positivas.
Eu só quero lembrar que o fato de não ser seu filho não faz a síndrome ou deficiênciadeixar de existir. O fato de você continuar o seu caminho, entrar no seu carro e ir embora também não faz aquela criança desaparecer. Nem o pai e a mãe dela, que já devem ter passado por muitas situações para mantê-la da melhor forma possível.
Chegar em casa e abraçar seu filho “perfeito” pode ser uma sensação inexplicável, mas continua não justificando a sensação de alívio ao ver uma criança especial. Ok, porque não é seu filho, mas você pode, SIM, fazer a diferença. Sempre digo: o tempo e o esforço que você dedica para falar ou sentir algo de gosto duvidoso são os mesmos que você pode dispensar para dizer algo que mude o dia daquela pessoa e que faça você sentir uma coisa totalmente positiva.
Muita atenção, não tem julgamento aqui! Ninguém nasce sabendo como lidar com situações que fogem do cotidiano. Eu levanto apenas o questionamento: será que, ao se deparar com crianças especiais, você está fazendo a diferença para o bem na vida delas?
Eu sou uma pessoa pública, tenho sorte por ser procurado por milhares de pais que querem levar seus filhos especiais para eu conhecer. Às vezes, querem apenas que eu os pegue no colo. Nem foto tiram. Se eu não fosse um orgulhoso representante da classe autista, não conseguiria fugir, nem se quisesse. Me sinto muito privilegiado por isso, e sei que planto algo bastante positivo naqueles pais e que mudo o dia ou ao menos aquele momento na vida da criança. Isso é uma sensação difícil de descrever. Fazer o bem para uma criança que precisa e que… não é sua. O bem aqui é, por vezes, apenas atenção! Segurar a mão, dar carinho, um abraço, ouvir, por mais que ela não fale, e entendê-la, por mais que seja impossível. Às vezes, não demora mais do que dois minutos do seu dia.”