Agressões com objetos cortantes mataram 12.102 pessoas no Brasil em 2014, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública
(Foto: iKLICK/Creative Commons)
Médico do Hospital Militar e do Albert Einstein, Marco Felipe Ariette; ele explica que, dependendo do local e da inclinação da facada, ferimento interno é maior que externo e pode provocar danos graves e até a morte.
O Brasil ainda está muito chocado com o atentado sofrido pelo candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro do PSL, foi atacado com um golpe de faca, durante um comício para sua campanha à eleição presidencial, na última quinta-feira (06).
O candidato foi operado na Santa Casa de Juiz de Fora, e na manhã desta sexta-feira (07), foi transferido para o Hospital Albert Einstein em São Paulo, segundo equipe médica, ele reagiu bem a cirurgia e mesmo tendo uma hemorragia interna que foi controlada pelos médicos.
Muitas pessoas nas redes-sociais começaram a questionar o fato de não ter aparecido um sangramento importante e externo no momento da facada. Alguns chegam a duvidar que o atentado tenha sido verdadeiro, porque o sangue não jorrou.
Mas o especialista Marco Felipe Ariette, cirurgião do aparelho digestivo do Hospital Militar em São Paulo e do Albert Einstein, afirma que geralmente esse tipo de trauma é diferente do que as pessoas imaginam.
“Ferimento a faca não é como nos filmes. Normalmente, o agressor enfia e tira a faca rapidamente, não crava ela no corpo da pessoa. E também não costuma ficar jorrando sangue para fora do corpo”, esclarece o médico.
Mesmo quando um ferimento com objeto perfuro cortante parecer pequena, ele pode ser extremamente perigoso.
Rafael Noronha Cavalcante, cirurgião vascular do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, declara que “ferimentos à faca têm potencial lesivo menor que os provocados por armas de fogo, mas isso não quer dizer que eles sejam de baixo risco”.
Conforme dados do Ministério da Saúde consolidados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública apontam que, em 2014, 20,2% das 59.681 mortes por agressão foram por objetos cortantes, enquanto 71,6% foram por armas de fogo.
“Dependendo do local, pode ser de muita gravidade, como no pescoço, onde há artérias de grande calibre. Mesma coisa nos membros inferiores e superiores”, afirma Noronha Cavalcante. “O abdome tem órgãos vitais e, quando a facada atinge órgãos como o fígado, baço ou artérias importantes, pode ocasionar morte”, completa Marco Felipe Ariette.
Lesões como a que sofreu o candidato Jair Bolsonaro, são consideradas graves pois atingem vasos sanguíneos e órgãos importantes, que podem levar à morte.
Por que ferimentos a faca, normalmente, são subestimados?
Marco Felipe Ariette diz que ferimentos a faca são subestimados porque o “orifício de entrada normalmente é pequeno”.
“A pele costuma retrair e não dá para saber o quanto a faca entrou. A aparência é, normalmente, de um corte pequeno”, explica o médico.
Por que ferimento a faca nem sempre sangra externamente?
O médico afirma que o ângulo da facada e o tipo de órgão atingido influenciam no tipo e na gravidade do sangramento. Além disso, diz o médico, os vasos sanguíneos costumam retrair quando há ferimentos desse tipo. “É um dos mecanismos de autodefesa do corpo para reter sangue”, completa.
Já o médico Rafael Noronha Cavalcante explica que muitas vezes o sangramento não extravasa pela ferida. “Mesmo nos casos dos membros superiores e inferiores pode haver um tamponamento do sangramento, sem externalização importante. Muitas vezes, o sangue vai dissecando por dentro dos músculos, gerando aumento do volume do membro”.
“Por que não jorra para fora? Porque dependendo de onde foi a lesão no vaso e da localização, o líquido vai fluir para o local onde há menor resistência, onde há menos pressão. Quando o ferimento é no abdome, a musculatura da região abdominal gera resistência. Se o vaso atingido for, por exemplo, atrás do peritônio, onde estão a aorta e a veia cava, muitas vezes o sangramento vai ser interno e disperso pela cavidade abdominal. O sangue se espalha por dentro da barriga”, explica Noronha Cavalcante.
Quando uma facada pode ser mais perigosa que um ferimento a bala?
“Um ferimento a faca pode ser pior que bala dependendo da localização. Se a facada pegar um vaso e o tiro não, pode ser pior”, diz Marco Felipe Ariette.
Levando em consideração o trajeto, a intensidade e profundidade do corte, um ferimento a faca consegue atingir vários órgãos ao mesmo tempo.
Rafael Noronha Cavalcante diz que o risco é menor quando a facada atinge, por exemplo, músculos, tendões e ossos. “Mas se atingir uma grande artéria de condução, como a da perna, o paciente corre risco tanto de sangramento quanto de perda de membro”, observa.
“Mas tudo depende de onde pega”, completa Ariette.