Mesmo com o medo de vingança e a vergonha que as vítimas infelizmente ainda sentem, essa jovem teve coragem de expor sua história, motivada por uma amiga que sofreu violência parecida, na intenção de alertar outras mulheres que passem pela mesma situação.
O relato é impressionante e deixa claro o abuso sofrido por Eliane Mastrodomenico, 23 anos, que usou sua conta no Facebook para contar tudo o que passou durante pouco mais de um ano.
Relacionamento abusivo: relato de Eliane
“Meu nome é Elaine e tenho 23 anos.
Eu gostaria muito de ainda ter 22 para poder apagar da minha vida o que vivi durante quase 1 ano.
Pensei muito sobre se deveria escrever sobre a minha vida ou não e decidi que sim. Decido que devo colocar para fora o que tanto me atormentava e decido, de alguma forma, ajudar mulheres que passam pelo o que passei.
Estou falando de relacionamento abusivo e violência contra a mulher.
Menina, não se culpe nunca! Tenho certeza que assim como eu me culpava, você guarda muita culpa e angustia no seu coração.
Tem coisas que não conseguimos encontrar razões, tem coisas que não entendemos o motivo de estar acontecendo em nossas vidas… Mas esteja certa de uma coisa: só VOCÊ pode sair dessa. Só VOCÊ pode fazer esse sofrimento acabar! Seja forte!
Completou 2 meses que consegui sair de algo que nunca imaginei entrar um dia. Hoje me sinto bem e confortável para compartilhar e falar sobre isso.
Me envolvi com uma pessoa aparentemente encantadora, algo típico de um agressor.
Eu tinha acabado de sair de um relacionamento de 3 anos e meio. Um relacionamento de verdade… Mas só hoje percebi essa verdade e quão bem tratada e respeitada como mulher eu era.
Eu era.
Eu era uma menina feliz, eu era uma menina vaidosa, eu era uma menina esforçada e dedicada no trabalho, eu era uma menina alto astral, eu era uma menina que hoje me espelho e me trato na psicoterapia para voltar a ser ela… E graças a Deus estou conseguindo.
Me desculpa mãe, por ter sido fraca.
Mas eu apanhei.
Eu apanhei, eu fui humilhada, eu fui maltratada, eu magoei pessoas que queriam o meu bem, eu estava cega e acreditava no amor.
Acreditava nas promessas e arrependimentos do agressor.
Acreditava realmente que eu seria burra se não o perdoasse. Eu iria perder um cara carinhoso que cuidava de mim e que me dizia: “VOCÊ É A MULHER DA MINHA VIDA”.
Como pude entrar num círculo tão vicioso?
Infelizmente entramos. E entramos de cabeça!
“O agressor te olha nos olhos e te convence de que quer te dar tanto amor, que você seria uma burra se fosse embora. Ele está arrependido, e a culpa da coisa acabar não vai ser dele porque te machucou, vai ser sua porque não foi capaz de perdoar e tentar de novo. Não importa quantas vezes isso se repita.”
E isso se repetiu quatro vezes. Eu apanhei quatro vezes.
Apertões, sacudidas, chute na barriga, soco na nuca, soco no braço, tapa na cara, jogada no chão, cuspida no meu rosto…
Por ciúmes. Por paranóias que ele causava. Eu apanhei por ele imaginar coisas.
A ordem era sempre a mesma: CARINHO – EXPLOSÃO – ARREPENDIMENTO/DESCULPAS – CARINHO – EXPLOSÃO – ARREPENDIMENTO/DESCULPAS – CARINHO – EXPLOSÃO….
“O agressor te faz sentir pena dele por ser descontrolado, antes que você sequer tenha tempo de sentir algo por si mesma.”
Eu me sentia culpada. Achava também que realmente merecia ouvir palavras e xingamentos tão sujos.
Da boca dele escutei muitas coisas que tinha vergonha de contar para alguém. E então sofria calada. Eu o amava. Era vista como tonta.
“Vadia”, “Vagabunda”, “Maldita”, “Desgraçada”, “Filha da Puta”, “Biscate”, “Mentirosa de merda”, “Você tá fodida na minha mão”, “Que vontade de quebrar você no meio”, “Você tá morta”.
Eu realmente estava morta. Tinha morrido por dentro. Não saia para lugar nenhum, não conversava com mais ninguém. Vivia em função de uma pessoa que me maltratava.
Meus novos amigos eram os amigos dele.
Eu tinha medo do agressor e do que ele pensaria mais ainda de mim se eu saísse por exemplo, para ir ao shopping com minhas amigas.
Ficava em casa para evitar briga, para ver se podia tranquilizar o meu coração. Para ver se eu poderia ser chamada de “amor” mais um dia e não de “vagabunda”.
Eu era “vadia” por ir até a padaria, eu era uma “puta” por ir buscar a minha irmã no metrô 23h, eu era uma “vaca” por dormir e esquecer de avisá-lo, eu era uma “desgraçada” por ver um filme e esquecer do meu celular por algumas horas….
Eu me esforçava para agradá-lo.
Não conseguia!
“O agressor psicológico te convence de que a culpa é sua! Mesmo quando diz que “você não tem culpa de nada”, a culpa é sua por não ser boa o suficiente pra ele, não ser exatamente o que ele queria. E você se frusta.”
Me frustava muito! Mesmo fazendo de tudo, ainda ser errada.
O que mais eu poderia fazer?
Nada! A culpa é dele! Ele é assim e nunca irá mudar.
É por isso que resolvi escrever! Pois hoje entendo e sei que milhares de mulheres passam pelo o que nunca queria ter passado.
Eu tentei até me matar.
Pois doía muito ouvir coisas que eu não era.
Hoje me sinto ótima e leve!
Eu superei. Eu quis superar! Eu abri os meus olhos de uma vez.
E sim, tomei a coragem que faltava e dei queixa na delegacia da mulher.
Seja forte menina!
Se você passa por algo parecido, não tenha medo! Erga a sua cabeça e não esqueça da mulher maravilhosa que é!
*Alguns trechos retirei do texto da minha amiga Isabella Cêpa
isabellacepa.tumblr.com
Foi o texto dela que me deu forças para acabar de uma vez com o que estava vivendo.*”